15.11.05

Alegria do povo

Nelson Vasconcelos | O Globo

Pequena nota publicada há alguns dias mostra que a mídia online continua despertando cobiça. Dizia que a Walt Disney e a Univision estão pagando US$ 425 milhões pelo direito de transmitir para os EUA as copas de 2010 e de 2014. Americano não é tão chegado a futebol, a gente sabe, e o segredo de tão alta cifra é que os direitos valem também para transmissão via celular e via internet.

A Univision — poderosíssima no mercado hispânico nos EUA — pagou agora US$ 325 milhões, contra US$ 175 milhões que tinha pago pelos direitos da última copa e da próxima. Já a Walt Disney (que controla os canais ABC e ESPN, entre outros) desembolsou US$ 100 milhões, contra US$ 40 milhões das outras vezes.

Exercícios de futurologia são sempre um perigo — principalmente num mercado tão dinâmico quanto o que envolve as tecnologias da informação. Podem surgir novidades que modifiquem tudo o que temos hoje. E tomara que aconteça isso mesmo.

Mas especular não custa nada, ainda mais num feriado. Para nós, espectadores à distância, como assistiremos à Copa de 2010, que será realizada na África do Sul?

A primeira idéia que devemos ter é a seguinte: muito provavelmente, a televisão estará bem diferente do que é hoje. Como já se sabe, é para a internet que a TV está migrando. Não tem jeito, mesmo que a gente aqui do lado pobre do mundo não tenha acesso amplo e irrestrito à chamada TV sobre IP. Isto significa mais interatividade e instantaneidade. Mais que isso, é a possibilidade de que qualquer espectador razoavelmente bem aparelhado, ali na beira do gramado, consiga enviar sua mensagem para qualquer lugar do mundo, a partir de seu celular, por exemplo. O que temos hoje em blogs e fotologs (que podem ser alimentados via celular) certamente ganhará seu equivalente na TV. É um caminho natural — e sabem disso, por exemplo, pesos pesados como Alcatel e Juniper, empenhadíssimas em disseminar pelo mundo a infra-estrutura que permita essa mudança.

Não deve ser uma boa perspectiva para quem paga milhões pelos direitos exclusivos de transmissão. O que me faz arriscar, neste rompante de chutologia, que os organizadores vão impedir a entrada — ou o funcionamento — nos estádios de dispositivos móveis capazes de transmitir imagens. Exagero? Nem tanto. É mais ou menos o que se faz hoje em eventos musicais (por sinal, patrocinados por operadoras de telefonia celular), onde se proíbe o uso de... celulares, mesmo para uso pessoal.

— Daqui a quatro anos muito provavelmente estaremos vendo TV ao vivo no celular — arrisca Marco Barcellos, diretor de Marketing da Avaya Brasil. — A TV não será mais a mídia principal a receber as informações dos jogos.

Em projeções otimistas, essa explosão eleva o número de telespectadores da partida final — hoje calculado em 30% da população mundial — para 50% do planeta. Quiçá, de outros...

Imagine-se, então, a venda de espaço publicitário para as mais diferentes (porém convergentes) mídias. Cada câmera na beira do gramado estará transmitindo lances para TVs abertas, a cabo, TVs sobre IP, celulares, handhelds, reloginhos do Mickey, o diabo.

— A Copa de 2010 estará centrada no mundo IP, que não tem limite. Isso abre espaço para você imaginar qualquer aplicação — diz Barcellos. — E será uma copa sem fios.

Se na Copa de 2002 foram transmitidos 12 terabytes (12 trilhões de bytes) em dados, a perspectiva é de que esse volume chegue a 20 trilhões em 2010. Para efeitos de comparação, a maior biblioteca do mundo, a do Congresso dos EUA, dispõe de nove terabytes de dados. Incrível.

Numéricas

A ONU divulgou semana passada um relatório estimando o número de usuários de internet em todo o mundo. Segundo a entidade, havia 875 milhões de pessoas com acesso à rede em 2004. Em primeiro no ranking, claro, estão os EUA, com 185 milhões de internautas. Em segundo está a China, com 94 milhões, seguida pelo Japão, com 75 milhões de usuários.

O Brasil fechou o ano como o décimo país em número de internautas. Eram mais de 22 milhões de brasileiros conectados à rede no fim do ano passado, contra cerca de 18 milhões em 2003. Do povo todo, somente cerca de 10% acessam a internet via banda larga. Pouco, muito pouco, mas o crescimento em relação a 2003 foi bem positivo nesse mercado: nada menos que 88,2%.

Aqui na América Latina, depois do Brasil, estão o México (14 milhões) e a Argentina (cinco milhões).

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