26.9.05

Voice over Internet Protocol (VoIP) – Apenas uma moda ou uma nova tecnologia que irá mudar nossa vida?

Luiz Viotti


“VoIP representa a mais significativa mudança de paradigma em toda a história das telecomunicações modernas desde a invenção do telefone” – Michael Powell, chairman da Federal Communications Commission (FCC)

Quando o chairman da FCC faz uma declaração como essa sobre uma tecnologia, provavelmente é hora de começar a levá-la a sério.

Voice over Internet Protocol - VoIP (Voz sobre IP) é a nova tecnologia que vêm causando excitação no mercado de telecomunicações. No entanto, muitas pessoas ainda se perguntam o que o VoIP tem a oferecer tanto para o mercado residencial quanto para o corporativo.

Na prática, para muitos de nós, a ficha cairá somente quando as contas telefônicas forem reduzidas a zero, enquanto nossos filhos continuam pendurados com os amigos ao telefone. Prestou atenção agora? Pois isso é virtualmente possível.

O VoIP é uma nova tecnologia digital que quebra a conversação (voz) em “pacotes de dados” e os transmite através da internet ou redes digitais privadas. Nos primeiros estágios da implementação do VoIP muito se reclamava da qualidade da comunicação (o famoso “picote” e delay na conversação).

No entanto, tanto a qualidade quanto a performance do serviço foram rapidamente aprimoradas, ao ponto em que ficou difícil distinguir entre o que é VoIP e o que é serviço tradicional de telefonia comutada.

O mercado corporativo está migrando rapidamente para o VoIP e, em muitos casos, sem o usuário final perceber. A exemplo, a americana Heinz migrou todas as comunicações internacionais para a sua rede IP e substituiu todos os aparelhos telefônicos tradicionais por aparelhos VoIP acoplados aos desktops de seus funcionários, resultando em uma economia total na ordem de 35%.

Adicionalmente, a tecnologia oferece a convergência de benefícios que antes eram contratados de empresas especializadas, tais como vídeo conferências, sessões de treinamento conjunto, trabalhos conjugados (online collaboration), etc.

No entanto, o mercado corporativo não irá migrar tão rápido quanto alguns executivos das empresas fornecedoras de soluções VoIP gostariam. A razão é simples: muitas companhias investiram pesado na modernização de sua estrutura de PABX.

O custo de mudança para um ambiente IP (incluindo o IP PBX) é difícil de justificar em um mercado onde as tarifas por minuto para clientes corporativos são normalmente baixas, em função do grande volume e da competição feroz por esses clientes. Atualmente, apenas as companhias que justificam um grande volume para integração voz/dados conseguem compor um business case para a migração.

De acordo com o Gartner Group, 95% das empresas americanas iniciarão até 2008 a convergência total de suas redes de voz e dados em uma única rede IP e 40% irão finalizar esse processo.

A British Telecom – BT está migrando vagarosamente seu tráfego de voz das tradicionais redes comutadas para a rede IP por essas serem significativamente mais baratas para manter e operar que as redes comutadas. Além disso, permitem ao operador adicionar, de uma maneira mais fácil, um número maior de serviços que em uma rede tradicional.

No mercado residencial a realidade é totalmente diferente e bem mais agitada. Hoje mais de 110 milhões de pessoas que já baixaram o software de VoIP Skype e, aproximadamente, outras 1 milhão de pessoas efetuam novos downloads a cada dia (e que não leva mais de 5 minutos em uma conexão DSL).

Utilizando apenas um fone de ouvido e um microfone, muitos usuários no mundo inteiro já utilizam o serviço por menos que US$0,01 o minuto (excluindo celulares) ou gratuitamente de Skype para Skype.

E há outros benefícios tentadores: realizar uma conferência utilizando o Skype é tão simples quanto clicar nos nomes dos participantes em sua lista e selecionar a opção “conferência”.

Tão simples e barato que diversas empresas estão mergulhando nesse filão quase que diariamente. Vonage, Net2Phone, inClarity, Gossiptel, Babble, AlwaysON, MSN e muitas outras estão brigando por um pedaço desse mercado e para atrair clientes para suas redes.

E você nem mesmo precisa sentar na frente de seu PC para falar – Empresas como ZyXel, RTX e VTech estão vendendo telefones IP que podem ser conectados em portas USB por aproximadamente US$200 e outras como Vonage e UTStarcom prometem telefones IP sem fio no fim de 2005 por menos de US$100.

Muitas concessionárias admitem que o VoIP é um divisor de águas e que a competição nesse mercado pode se tornar predatória. Esse fato é agravado pela ausência de regulamentações específicas para o VoIP e as obrigações das novas operadoras em relação a grande quantidade de regulamentações e exigências a serem cumpridas pelas incumbents.

Adicionalmente, excluindo o fato da qualidade do serviço, apesar de boa, ainda não possuir o mesmo nível dos serviços tradicionais, há a questão da segurança. As redes tradicionais oferecem um nível de segurança muito maior que as redes IP, além de terem sido concebidas e implementadas para, essencialmente, comportar grandes volumes de tráfego voz e com alta qualidade.

Alguns serviços de telefonia por internet permitem que usuários inescrupulosos aparentem ligar de um número que não o seu próprio – como por exemplo bancos ou outros serviços conhecidos. Esses recursos, conhecidos como ID spoofing, ressaltam o ainda baixo nível de segurança sobre os serviços VoIP, uma vez que convergem as vulnerabilidades das redes de dados.

A crescente utilização da banda larga é a maior responsável pelo aumento no consumo do VoIP. Mundialmente, o número de assinantes ultrapassou 100 milhões em fevereiro de 2005 e a penetração está crescendo rapidamente. O “fator novidade”, que ao longo do tempo faz com que algumas tecnologias caiam no esquecimento, nesse caso será mitigado em função da redução dos custos de adoção da tecnologia.

Outro aspecto a ser considerado é a dificuldade de fidelizar o cliente baseado apenas na adoção de preços baixos. Caso o serviço seja gratuito ou com preços semelhantes, os usuários tendem a utilizar o serviço mais conveniente. A expectativa, então, é de que as oportunidades surjam na integração com outras aplicações de massa já incorporadas pelo Mercado, tais como MSN, Google, AOL, etc.

E qual o impacto disto tudo nas operadoras atuais? Os estudos mostram que no mercado residencial as operadoras sofrerão perdas significativas nos próximos 5 a 10 anos. Os consumidores comprarão serviços de DSL das operadoras e, através deles e com uma única tarifa, utilizarão essa conexão para o serviço de voz, por exemplo: R$40,00 por mês por uma conexão de 10 Mbps mais o valor do provedor de acesso.

E nesse preço estão incluídas todas as ligações locais e de longa distância nacional e internacional que você conseguir realizar – no estilo all you can dial !!! Outro fato atraente também é que a utilização do serviço não é nenhuma ciência de foguetes e você não precisa ser nenhum geek em TI ou telecomunicações para se comunicar facilmente.

A vantagem competitiva das operadoras é que, atualmente, as conexões DSL ainda estão atreladas à rede de telefonia tradicional, o que permite que essas operadoras ofereçam baixos preços no atacado. No entanto, em alguns países como a Noruega, o órgão regulador deliberou a desagregação das conexões. Na prática, o usuário pode comprar somente a conexão DSL sem a necessidade de comprar serviços da rede de telefonia de voz.

No Brasil, com o novo modelo de separação de contas e modelagem de custo (regulamentado pela resolução 396 de 6 de abril de 2005) a ANATEL deu um importante passo para a implementação do unbundling – desagregação de redes – no mercado brasileiro.

A partir de 2008, as operadoras terão definidos os custos por serviço e produto e, através desses custos serão definidos os preços finais ao consumidor. Esse novo modelo permitirá que, de forma regulamentada, novas operadoras entrem no mercado comprando serviços de rede e acesso de “última milha” das operadoras existentes, aumentando a oferta de serviços de telecomunicações e beneficiando a expansão do VoIP.

E você ainda vai ouvir muito a respeito do assunto. Tão empolgantes quanto a tecnologia são as discussões regulatórias e mercadológicas que advém de sua implementação. Na sua próxima ligação, tente imaginar se sua voz já é IP, se for, bem vindo ao futuro das telecomunicações!

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