19.5.06

"O PT terceirizou o Ministério das Comunicações", critica presidente da TV Bandeirantes

Convergência Digital

A discussão em torno da implantação da TV Digital no Brasil está muito focada na discussão tecnológica, por falha de todos os atores ligados à questão. A afirmação é do presidente do Grupo Bandeirantes de Televisão, João Carlos Saad, que participou de uma rodada de discussão sobre TV Digital, uma nova legislação e modelos de negócios, realizada pelo Projeto Brasil, na capital paulista.

João Saad criticou duramente a postura do Governo Lula com relação à Comunicações."O PT terceirizou o Ministério das Comunicações. Essa é a maior prova que ele não era e não é estratégico", afirmou o executivo. Saad também descartou a possibilidade de uma discussão efetiva sobre a nova Lei Geral de Comunicação, prevista para começar em junho.

"Daqui para novembro, nada mais acontece nesse país. Qualquer discussão mais aprofundada só terá vez depois de definido o quadro sucessório no Governo Federal. Até lá é tudo muito debate e pouca ação",ponderou Saad. O presidente do Grupo Bandeirantes de Televisão também não isentou o atual ministro das Comunicações, Hélio Costa.

Saad admitiu que Costa teve o mérito de trazer a área de Radiodifusão para o debate da TV Digital. "Até então, não éramos convidados para nada nesta área. E olha que somos um setor crucial na comunicação. Ele teve esse mérito", ressaltou.

Mas o presidente do Grupo Bandeirantes também enxerga pontos críticos na atuação de Costa à frente do Minicom. "Ele não quis enfrentar questões relevantes para o setor. Ora, como é que o governo e o Minicom permitem que um empresário mexicano (Carlos Slim) venha ao Brasil e compre três empresas como a Embratel, a Claro e a Globocabo sem qualquer contrapartida para o Governo?", indaga, deixando claro nas entrelinhas que teme uma ação mais contundente de Slim na área de conteúdo através das suas empresas no Brasil.

Saad, que mantém ação no CADE - Conselho Administrativo de Defesa Econômica, do Ministério da Justiça - contra a fusão Sky e DirectTv no Brasil, também contesta o posicionamento do Minicom e do Governo brasileiro neste episódio. "Não sei porque não há uma postura mais decisiva do governo neste caso. Parece que há a intenção de não desagradar a ninguém", afirma.

Questionado sobre a postura abertamente favorável do Ministro Hélio Costa ao padrão japonês em função da sua ligação com a radiodifusão, Saad reafirma que Costa adotou uma postura mais agressiva para "equilibrar o jogo". "Ele está pagando este preço", completa.O presidente do Grupo Bandeirantes assegura que não há nenhuma pressão por parte das TVs para uma decisão do Presidente Lula ainda neste mês de maio.

"Isso não existe. O que queremos é que a decisão seja do país e não focada apenas no debate tecnológico. Essa parte, que me desculpem os engenheiros, é irrelevante. Se será MPEG 4 ou não, isso é o de menos. O importante é definir os atores", alerta Saad.

Com relação a possíveis alianças com operadoras de telecomunicações sejam elas fixas ou móveis, Saad foi pragmático. Segundo ele, no mundo dos negócios não existe consenso mas, sim, oportunidades. Com relação a um novo marco regulatório, condição considerada essencial por boa parte do setor, o presidente do Grupo Bandeirantes de Televisão mostrou-se descrente.

"Temos que olhar o que já existe e saber como está sendo cumprido e, antes de mais nada, se está sendo cumprido. Temos leis vigentes que não são cumpridas. Criar novas para não cumprí-las não adianta nada. O mais importante de tudo é perceber que veículo de comunicação não é uma fábrica de prego. Ela é crucial", relata, lembrando que os Estados Unidos quando invadiram o Iraque, tomaram como primeira ação, tomar de assalto a rede de Televisão Al Jazeera, para evitar a transmissão de informação.

"Essa é a prova maior que a TV aberta não é uma TV paga e não é uma empresa de telefonia. Nos Estados Unidos, na Europa e na Ásia não se compra uma rede de TV tão facilmente. Então, há papéis a serem defendidos. E é o que estamos fazendo nesta discussão sobre TV Digital. É um momento sem igual para o Brasil. mas as regras têm de ser claras e transparentes para todos os atores. É só isso que queremos", concluiu o executivo.

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