8.10.07

3G x Wimax

Estadão

Conexões sem fio em larga escala foram um dos principais assuntos discutidos no evento Futurecom 2007, que aconteceu na semana passada em Florianópolis; regulamentação brasileira impede a oferta de WiMax móvel e 3G

Em junho, havia 233 mil acessos de banda larga sem fio no País, segundo um estudo da consultoria IDC, feito a pedido da Cisco. Não fossem as barreiras criadas pela regulamentação, poderia haver muito mais. A banda larga móvel, com tecnologia WiMax, e a terceira geração (3G) de telefonia celular já poderiam estar disponíveis no País. Há empresas dispostas a investir, mas regras definidas pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) não permitem que esse tipo de internet rápida entre no ar.

A banda larga tem crescido rápido. Mas a cobertura é limitada e a competição, ainda pior. No fim do semestre passado, eram 6,77 milhões de brasileiros com internet rápida. Ou melhor, nem tão rápida, porque o número inclui acessos com velocidade de 128 quilobits por segundo (Kbps) para cima. No exterior, a banda larga costuma ter 2 megabits por segundo (Mbps) ou mais, o que representa 16 vezes mais. Existem cerca de 3 mil municípios brasileiros sem internet rápida.

'O WiMax recebe de mim todo o empenho', disse na semana passada o presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg, durante o Futurecom, principal feira de telecomunicações do País, que ocorreu na semana passada, em Florianópolis.

Apesar disso, ele não arriscou uma data para a retomada do leilão de freqüências para o WiMax. Em 4 de outubro de 2006, o Tribunal de Contas da União (TCU) suspendeu a venda das licenças. Enquanto isso, a Anatel obriga os fornecedores a bloquearem a mobilidade de seus equipamentos.

'Não dá para certificar além do que o regulamento manda', justificou Jarbas Valente, superintendente da agência. O regulamento não prevê serviços móveis. 'A mobilidade não deve ser limitada por mecanismos regulatórios', defendeu o ministro das Comunicações, Hélio Costa, na abertura do evento. Este foi somente um dos conflitos entre o discurso do ministro e o da Anatel. Em 2006, quando a venda das freqüências foi suspensa, Costa foi um dos principais críticos das condições do leilão.

Em fevereiro, a Alvarion, fornecedora de equipamentos, fez um teste de WiMax em 2,5 GHz, em parceria com a Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Campinas. 'Conseguimos oferecer velocidade de 10 Mbps para o assinante', afirmou Ricardo Pence, diretor da companhia. A Embratel, a Brasil Telecom e a Neovia possuem licenças para usar a faixa de 3,5 GHz, a mesma que será vendida pela Anatel. A Brasil Telecom escolheu a Alcatel-Lucent para desenvolver sua rede. A Embratel e a Neovia têm equipamentos da Alvarion. Somente a Neovia, que opera no Estado de São Paulo, começou a oferecer banda larga via WiMax.

As empresas com licença de TV paga via microondas (MMDS), como a TVA, também podem operar o WiMax mesmo sem o leilão. A consultoria Frost & Sullivan estima que haverá 600 mil acessos de WiMax no País em cinco anos, num total de 12 milhões de usuários de banda larga.

'No começo, a tecnologia vai atender a alguns nichos importantes', afirmou Luiz Carlos Moraes Rego, diretor do WiMax Forum no Brasil. Um deles seriam as cidades digitais, em que as prefeituras resolvem instalar banda larga para melhorar o acesso da população a serviços públicos. Outro seriam as pequenas e médias empresas e os condomínios.

A Claro e a Telemig Celular investiram em redes de terceira geração, mas não podem oferecer o serviço porque a Anatel não permite. Eles pretendem usar a faixa de 850 MHz, que já possuem e está sem uso. O regulamento, no entanto, não prevê 3G nessa freqüência. 'Só falta ligar a rede', disse na semana passada o presidente da Claro, João Cox.

As operadoras celulares temem a competição do WiMax móvel. O diretor de Regulamentação da Vivo, Alberto de Mattos, defendeu condições iguais. Quem vencer o leilão de 3G terá obrigações de cobertura, tendo que instalar rede em cidades pequenas, o que não acontece com o WiMax. Além disso, as licenças para o WiMax devem ser mais baratas. 'O 3G e o WiMax são complementares, apesar de haver sobreposição', disse Petronio Nogueira, sócio da Accenture. 'É saudável para o mercado.'

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