11.10.07

Japão acaba com subsídios de celulares


Apesar de ser um dos maiores mercados da telefonia móvel celular, o Japão vive um momento de transformação e pode, de alguma maneira, replicar o modelo mundialmente. Isso porque em função de uma determinação governamental, as operadoras móveis foram obrigadas a retirar o subsídio dado nos custos dos terminais para reduzir o custo do serviço pago pelo consumidor.

A decisão foi anunciada em junho e será implementada a partir de novembro, quando a KDDI, segunda maior operadora do mercado, adere à decisão da Agência Reguladora japonesa. A companhia informou que a partir de 12 de novembro, irá reduzir sua tarifa mensal mais baixa em 40%.

Os assinantes que quiserem aproveitar a nova tarifa terão que desembolsar 20 mil ienes (cerca de US$ 200) por um novo modelo de celular. Os clientes ainda terão a opção atual de pagar taxas mensais mais altas para receberem novos modelos de celular a preço mais baixo.

No passado, as operadoras móveis japonesas optaram por subsidiar massivamente a venda de celulares. Como forma de compensação, entretanto, "incharam" as tarifas básicas e o preço da chamada. Com isso, os aparelhos chegaram a ter o preço simbólico de um iene, além das operadoras terem pago até 36 mil ienes (pouco mais de US$ 300) por comissão de venda.

Revisão geral

Modelo, aliás, replicado mundialmente, inclusive aqui no Brasil, onde o subsídio do terminal foi essencial para que o país alcançasse a marca de mais de 115 milhões de assinantes em pouco menos de 10 anos. Hoje, já há operadoras como a TIM que renunciou ao subsídio do terminal e a Oi, que também não vende mais o aparelho, mas apenas o chip.

No entanto, a Claro e a Vivo, especialmente no mundo GSM, por exemplo, travam uma "batalha" por novos assinantes, onde o subsídio do terminal continua sendo uma das "armas" mais utilizadas para seduzir o cliente.

No Japão, a Agência reguladora decidiu,agora, que o modelo praticado determinava uma distorção no mercado e respaldada pelo Poder Executivo, recomendou às operadoras, que investem pesado em infra-estruturas de Terceira Geração, o fim dos subsídios aos aparelhos celulares que levavam, segundo o órgão, aos consumidores a trocarem de aparelho com freqüência, prejudicando assim, quem preferia manter o mesmo aparelho por mais tempo do que o estimado pelas teles.

A KDDI é a primeira a mudar. A NTT DoCoMo, maior operadora móvel do Japão, com cerca de 50% de market share, também deverá implementar medida semelhante. Na opinião dos analistas, os mais prejudicados com a mudança do modelo de comercialização de serviços móveis são os fabricantes de celulares. Isso porque os consumidores passarão a trocar de celular num espaço maior de freqüência. No Japão, os usuários trocam de celulares, em média, a cada 24 meses.

Desde que o governo anunciou a recomendação em junho último para a mudança no modelo, os investidores passaram a vender ações das operadoras móveis no mercado. A DoCoMo já perdeu 14% do seu valor, a KDDI caiu 11% e as ações da Softbank chegaram a bater os 16,9% de perda. "Queremos reduzir os subsídios aos vendedores a longo prazo e encorajar o desenvolvimento de aparelhos a preços mais baixos", defendeu Makoto Takahashi, vice-presidente adjunto da KDDI.

O setor móvel no Brasil também passa por um momento de revisão. Caso a Agência Reguladora venha impor condições para a atuação delas no mercado e determine também o fim do subsídio de aparelhos em troca de tarifas mais baratas - um anseio do governo colocado pelo ministro das Comunicações, Hélio Costa, principalmente, em função de a maior parte dos assinantes do serviço celular aderir ao modelo pré-pago, com tarifas pré-fixadas de consumo, também haverá uma grande reestruturação no cenário nacional e, possivelmente, no market share atual da telefonia celular, que tem a Vivo na liderança - ampliada com a aquisição ainda não aprovada da Telemig e Amazônia Celular - e TIM e Claro brigando pela segunda e terceira posições.

Essa revisão implica forte revisão para os fabricantes de terminais. No Japão, empresas tradicionais como Sharp, Matsushita, NEC e Casio enfrentam tempos difíceis, sem presença no mercado internacional e tentando sobreviver em um mercado doméstico cada vez menor. Como exemplo dessa tendência, a Casio reduziu sua previsão de lucro operacional anual em 30%, por exemplo.

A questão vai além dos muros da telefonia celular. Os economistas revelam preocupação com a decisão da KDDI de baixar o preço das tarifas e aumentar o dos terminais. Segundo eles, essa ação poderá provocar uma guerra de preços e afetar substancialmente o índice de preço ao consumidor, prolongando assim a tendência deflacionária da economia japonesa. Se a medida ultrapassar a fronteira do Japão, outras grandes fabricantes também terão que rever seus modelos e poderão enfrentar problemas financeiros, mesmo com a previsão de o mundo possuir, até dezembro, mais de três bilhões de assinantes de serviços celulares.


Nenhum comentário: