15.3.07

A evolução dos pagamentos via celular

Diante da oportunidade de ampliar a carteira de serviços aos correntistas e incentivar o uso do meio eletrônico em substituição ao cheque ou dinheiro para transações de baixo valor, os bancos brasileiros abriram os olhos para o pagamento pelo celular e estão colocando serviços em prática.O HSBC Bank Brasil saiu na frente aliando-se à empresa M-Cash para lançar, em outubro de 2006, uma plataforma independente de pagamentos pelo celular, inicialmente voltada ao e-commerce, a seus 4 milhões de clientes pessoa física.

Com 20 lojas online cadastradas, 7 mil usuários e uma média de 500 transações por mês, o M-Cash agora parte para o varejo tradicional. “Até o final de março vamos fechar o acordo com um grande varejista”, adianta Arno Brandes, executivo sênior da área de e-business do HSBC.
Após um teste de conceito realizado internamente com lojas da LivrariaCultura, em São Paulo, no final do ano passado, a expansão do pagamento móvel no varejo físico deve começar em 100 lojas nas próximas semanas. A informação vem da própria M-Cash, que tem como principais acionistas a Megadata e a Albatroz Participações, e por enquanto é parceira exclusiva do HSBC.
Uma das vantagens da aliança com o M-Cash, segundo Brandes, é a independência de operadoras e da formulação de um modelo de negócios mais complexo.“Com o serviço SMS, esbarrávamos no fato de não termos a garantia de entrega da mensagem, bem como na dificuldade de formular um modelo de cobrança”, argumenta o executivo. Para acessar o serviço, o correntista deve cadastrar seu número de celular junto a uma central de atendimento do HSBC. No momento de fechar sua compra online, o usuário seleciona a forma de pagamento M-Cash e informa o número de seu celular.Ao receber a informação do internauta, o lojista envia a solicitação ao sistema M-Cash informando os dados da loja, o valor da compra e o número do celular. Em seguida, o M-Cash faz uma ligação direta ao celular do cliente, que digita uma senha exclusiva para o serviço e confirma a compra.
O valor é enviado ao HSBC como uma solicitação de transferência da conta do correntista para a conta do lojista. E finalmente o usuário recebe uma mensagem de confirmação do débito em conta, sem cobrança adicional pela transação.A solução atualmente baseada apenas em débito tende a se expandir para o modelo de crédito. “Estamos olhando para todas as administradoras de cartões”, diz o executivo, que ainda não sinaliza uma parceria concreta neste segmento.
Redução do papel
Com a premissa de reduzir o uso do dinheiro em papel ou cheque em micropagamentos, em abril, o Banco do Brasil inicia um projeto piloto de pagamentos de delivery pelo celular em parceria com a VisaNet. Segundo Raul Moreira, gerente executivo de banco eletrônico do Banco do Brasil, a idéia é lançar o serviço em junho aos correntistas.
“A princípio serão 3 mil estabelecimentos conveniados em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, no Distrito Federal e em Minas Gerais e depois vamos ganhar escala”, informa Moreira.
Além da conveniência a vantagem do pagamento móvel é preservar informações financeiras do usuário. “A pessoa pede sua pizza e só informa o número do celular, não precisa dizer a terceiros o código de segurança de seu cartão”, ressalta.
Como negócio para o banco, o pagamento móvel permite a entrada no segmento de pagamentos não presenciais, onde o uso do dinheiro eletrônico não é uma regra. “Hoje, a não ser que o entregador tenha um terminal móvel de POS, você tem de pagar seu pedido em papel [cheque, dinheiro ou vouchers de refeições].
”E por que não partir para uma plataforma idependente? A resposta do banco, que há anos observa o mercado de telefonia móvel, e foi o primeiro a integrar seu mobile banking a todas as operadoras do País, é escala.
“Acho que o pagamento móvel envolve muito mais a questão de acordar modelos de negócios do que integração tecnológica. Este modelo é discutido há muito tempo. Mas todos os testados não podiam ser massificados porque faltava integração com as bandeiras de cartão de credito. Tudo morria em função de escala.
”Espelhados na estratégia de pagamentos móveis presenciais da operadora NTTDoCoMo, os executivos do BB também avaliam modelos de pagamento pelo celular em compras presenciais.
“Vamos apostar no conceito ‘push and pay’ no varejo”, afirma Moreira. Em relação à cobrança pelo serviço, o executivo estima que o valor varie de 15 a 50 centavos por transação, dependendo da operadora. “O valor chega a ser barato diante da usabilidade do serviço”, avalia.
Atualmente, o BB busca operadoras de telefonia móvel para fechar o ciclo do negócio. A Brasil Telecom, que já é parceira do banco em uma linha de crédito e débito com a marca da operadora, é uma potencial candidata a iniciar a parceria.
Táxi e pão de queijo
ABN Amro e Bradesco também se aliaram à VisaNet em testes com pagamentos de corridas de táxi e de pagamentos presenciais junto a pequenos varejistas.
Em novembro do ano passado, o ABN iniciou um teste de pagamento de corridas de táxi com 12 veículos que atendem os funcionários, na Rua Itapeva, na zona central de São Paulo, ao lado do edifício-sede do banco.
“Foram distribuídos celulares da TIM aos taxistas pré-configurados com uma aplicação de pagamento móvel desenvolvida em parceria com a M-Pay”, conta Maria Regina Botter, superintendente de produtos de cartões do banco.
Para acessar o sistema, o funcionário se cadastra em uma área dedicada do site do ANB e escolhe um código secreto para o pagamento móvel. Ao final da corrida, o taxista digita o valor da transação em um terminal, o cliente liga para um determinado número cadastrado do serviço e cai em uma central de atendimento automático (URA). Ao comando da central, o passageiro digita o código secreto e depois aproxima o celular do terminal do taxista. “No lugar do SMS, os aparelhos trocam ondas sonoras que identificam que o celular do passageiro está vinculado a determinado cartão de crédito do cliente e por fim o valor é lançado na fatura do cartão”, explica Botter.
Paralelamente ao teste com os taxistas, o ABN mantém um piloto de pagamento móvel em nove estabelecimentos comerciais que atuam nos arredores e dentro da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).
Desde o início de novembro, os universitários que são correntistas do banco podem se cadastrar na internet e usar o celular para comprar um lanche dentro da faculdade, na Casa do Pão de Queijo ou na lanchonete VIP, pagar o almoço no restaurante Kiloliba, ou as cópias dos livros na papelaria Sucopi, em frente à PUC.
Os lojistas envolvidos receberam do banco um aparelho celular da TIM com um software criado pelo ABN em conjunto com a Spring Wireless especificamente para o teste. Ao fechar a transação, o cliente recebe um código de autorização randômico que é digitado no aparelho do lojista junto com a senha do serviço, para autorizar o pagamento. Terminada a transação, o cliente recebe uma mensagem de texto informando valor, nome do estabelecimento, data e hora da compra. Como foi implantado no final do ano, período de férias escolares, o piloto foi adotado por 500 correntistas, mas a idéia é acelerar as adesões divulgando o produto no campus por meio de promotoras de vendas.
Tanto o pagamento de corridas de táxi como o de bens de consumo do ABN ainda estão na fase de ‘provas de conceito’ sem previsão de aplicação em larga escala. “Estamos conhecendo o comportamento do sistema e analisando diferentes tecnologias para identificar a mais adequada antes de colocar o sistema em prática”, afirma Botter. O estágio, segundo ela, termina em junho deste ano.
Crédito em alta
A experiência positiva com a venda de créditos para celulares pré-pagos Visa e Claro pelo celular a seus correntistas, incentivou o Bradesco a iniciar testes de pagamentos móveis junto a uma frota de 150 táxis que atendem os funcionários do banco, em São Paulo.
Na prática, a aplicação que também tem a VisaNet como parceira, difere da usada pelo ABN. Os taxistas receberam celulares da Claro com uma aplicação baseada em WAP 2.0. No momento de fechar a corrida, o motorista acessa a aplicação e digita o número do cartão do passageiro, o código de segurança e o valor da transação. O pagamento é verificado pela Visa, que envia uma confirmação via texto ao celular do motorista.
“Pautamos o mobile banking na recarga pelo celular e já registramos 500 mil usuários desde o lançamento do serviço, em dezembro do ano passado”, ilustra Marcos Bader, diretor departamental do Bradesco. “Pelo crescimento que observamos do ponto de vista da adesão, esse é um processo explosivo”, prevê.

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