23.7.07

Opportunity avalia proposta para sair da BrT, diz Dantas

Folha de São Paulo

Empresário afirma ter sido procurado por fundos de pensão e Citigroup para vender a sua participação na Brasil Telecom

Ele diz que não se oporá a mudanças societárias na operadora de telefonia; demais sócios não confirmam negociação

O grupo Opportunity foi procurado por representantes de fundos de pensão e do Citigroup para vender sua participação na Brasil Telecom e não pretende se opor à reorganização societária da operadora, informou o dono do Opportunity, Daniel Dantas.
"Fomos procurados por um fundo de investimentos que diz estar trabalhando alinhado com os fundos de pensão e com o Citibank", afirmou, em entrevista concedida por e-mail à Folha na última sexta-feira.

Segundo o banqueiro, é cedo para dizer qual será o próximo movimento do Opportunity no xadrez das telecomunicações.

"Sem conhecer a proposta de preço e as condições, não há como dizer [se o Opportunity fica ou sai da operadora]", ponderou. "Não temos essa intenção [de brecar as mudanças na Brasil Telecom]", disse.


Dantas, no entanto, deixou entrever em suas respostas que negociar cada vírgula de um possível contrato com os fundos de pensão será minuciosamente discutido.


"Defenderemos os nossos direitos e os dos nossos investidores com a mesma diligência com que, no passado, defendemos os direitos do Citibank e das companhias", alfinetou.

Questionado sobre quais condições seriam consideradas satisfatórias para um possível negócio, ele respondeu: "Respeito aos direitos e aos contratos de todas as partes".

"O Opportunity sempre teve interesse em extinguir todos os litígios e já propôs inúmeras vezes ao Citibank e aos fundos de pensão submeter as divergências a um mecanismo neutro de arbitragem internacional", garantiu Dantas.


A Brasil Telecom é a operadora de telefonia fixa que atua nas regiões Norte, Sul e Centro-Oeste. O controle da companhia é partilhado por fundos de pensão, Citi, Opportunity e Telecom Italia.


Disputa

Desde 2001, os quatro sócios travam uma grande disputa pelo comando da Brasil Telecom. Acusações de espionagem, de corrupção, de uso de influência governamental e de manipulação da mídia, processos judiciais, CPIs, inquéritos policiais e prisões, aqui e na Itália - de tudo houve um pouco no estica-e-puxa pela operadora.


O fim dessa história começou a ser definido no meio da semana passada, quando os fundos de pensão compraram a fatia dos italianos na concessionária (19% do total).


A partir dessa compra, tornou-se mais factível a intenção dos fundos de pensão de unir a BrT a outra tele onde têm grande participação: a Oi (ex-Telemar), maior operadora fixa do país. A idéia também é acalentada pelo governo federal.


A princípio, há dois caminhos para torná-la realidade. O primeiro é que os sócios remanescentes ofertem suas ações de maneira conjunta. O outro é que fundos e Citi comprem as ações do Opportunity antes de levar a pulverização a cabo.

Para Dantas, a alternativa mais vantajosa "dependerá do preço". Ao ser perguntado sobre o valor pedido pela Telecom Italia -cerca de R$ 37 por ação, mais de 40% abaixo dos R$ 53 que vinham sendo praticados no mercado -, o empresário mostrou-se enigmático.

"Pelo que foi anunciado, o desconto dado pelos italianos teve como contrapartida benefícios paralelos", disse.


Há dois anos, o Citigroup fechou um acordo que o obriga a vender sua parte na Brasil Telecom aos fundos de pensão. Em contrapartida, os fundos assumiram o compromisso de pagar pelos papéis um valor, à época, três vezes acima do praticado no mercado.


A Folha perguntou a Daniel Dantas se o Opportunity tem direito a "tag along" na venda das ações do Citi. Isso significa que o preço pago a um terá de ser oferecido também a outro. "Sim", garantiu ele.


E vale a pena para o Citi abrir mão da "put" (a cláusula que garantiria vender suas ações por um preço que estava inicialmente acima do mercado)? "Pelo que entendemos do valor das companhias, não vale a pena para o Citibank", calculou.


Os fundos de pensão e o Citi foram procurados pela Folha na sexta-feira para comentar se havia um compromisso mútuo de desistência da cláusula. Também foi questionado se, para tanto, alguma compensação teria de ser negociada. Não houve resposta até o fechamento desta edição.


Setor no país deverá passar por redesenho

Seja qual for o desfecho do caso Brasil Telecom, o país viverá uma onda de consolidação no setor de telecomunicações que certamente dará muito trabalho à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).

O redesenho do mercado brasileiro é muito importante para saber qual será o peso mundial de, pelo menos, quatro grandes grupos estrangeiros: o espanhol Telefónica, o mexicano América Móvil, a Telecom Italia e a Portugal Telecom.


A Telefónica cuida da telefonia fixa da região mais rica do país, o Estado de São Paulo. É dona de 50% da Vivo, líder nacional em telefonia celular, e do portal Terra. Adquiriu a TVA do Grupo Abril, além de possuir outras licenças de TV a cabo. Fora do Brasil, é a principal acionista da Portugal Telecom e depende do sinal verde de órgãos reguladores para concretizar a compra de 10% da Telecom Italia.


Os mexicanos são os detentores da Embratel (longa distância), da Claro (terceira maior tele móvel) e da Net (em parceria com a Globo). Também são acionistas da Portugal Telecom.


A Telecom Italia tinha 19% da BrT, mas agora só mantém a TIM Brasil -o que não é pouco, tendo em vista que a operadora é a segunda no mercado celular do país.


Por fim, há a Portugal Telecom, dona no Brasil de 50% da Vivo e parceira do grupo Folha. O mercado especula que há interesse dos portugueses em vender sua fatia na Vivo e, com o dinheiro, comprar a parte dos sócios privados da Oi.


Uma suposta união, no futuro, da Oi e da BrT resultaria em uma grande companhia lusófona - pelo menos nos primeiros degraus societários. Em relação à tal possibilidade, Daniel Dantas afirmou que "é possível, se forem equacionadas as questões regulatórias". Mas acrescentou: "Não tenho informações a respeito".

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