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Na semana passada alguns veículos da mídia brasileira divulgaram dados preliminares de um estudo realizado por pesquisadores das universidades da Califórnia, nos Estados Unidos, e de Aarhus, na Dinamarca. A pesquisa, que só terá seus resultados publicados em julho deste ano, atribuiria à utilização de celulares no período de gravidez a ocorrência de transtornos de comportamento em crianças no início da idade escolar – por volta dos sete anos.
O trabalho tomou como base um questionário respondido por 13,1 mil mães de
crianças no começo da vida escolar. As mães foram perguntadas sobre a presença, em seus filhos, de distúrbios de comportamento, como hiperatividade, e emocionais, como dificuldades de relacionamento. Foi também perguntado se elas utilizaram telefones celulares pelo menos duas vezes ao dia durante a gravidez. As respostas indicariam, segundo as matérias sobre o estudo, a existência de relação entre as duas situações.
Nas matérias publicadas, não se esclarece se havia no questionário perguntas sobre outras variáveis que pudessem ser associadas a futuros problemas de saúde nas crianças – como uso de cigarros e álcool, por exemplo – ou sobre o
histórico médico e situação sócio-econômica familiar.
Os próprios coordenadores da pesquisa – Hozefa Divan, Leeka Kheifets, Carsten Obel e Jorn Olsen – ressalvaram que não é possível atribuir a eventual hiperatividade ou problemas de comportamento ao uso do celular. Distúrbios como esses no começo da vida escolar podem ter diversas origens e as relações observadas pelos pesquisadores não são, necessariamente, de causalidade.
Após a divulgação do estudo em jornais britânicos, os autores afirmaram também que a cobertura feita pela mídia estava fora de foco. O que foi publicado, “claramente não é aquilo que queríamos sugerir e pensamos que não há motivo para que as mulheres grávidas se alarmem” disse o Professor Jorn Olsen, porta-voz do grupo, para quem o trabalho nunca se propôs a sugerir um mecanismo biológico pelo qual a exposição a aparelhos celulares pudesse levar a problemas comportamentais nas crianças. De acordo com Jorn Olsen, muitas relações vistas em estudos desse tipo ocorrem de forma circunstancial. Os pais podem, portanto, ficar despreocupados, pois a grande maioria das crianças que foram expostas a celulares, dentro e fora do útero, não apresentou problemas comportamentais.
Também no Brasil, especialistas consideraram prematuras as ilações apresentadas em matérias sobre o trabalho. Em entrevista a um dos veículos brasileiros que abordaram a pesquisa, o professor chefe do Pré-Natal Personalizado da Escola Paulista de Medicina, Abner Lobão Neto, afirmou que os dados apresentados são inconclusivos. Michel Yacoub, professor-titular de telecomunicação da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp (SP), afirmou ao mesmo veículo que a potência da radiação que o celular transmite é pequena. "Existe uma distância grande entre o ouvido da mulher e o útero. Não consigo ver uma
relação biológica".
A Organização Mundial da Saúde (OMS), que acompanha o tema no âmbito do Projeto Internacional sobre Campos Eletomagnéticos (EMF, na sigla em inglês) monitora, avalia e valida estudos científicos internacionais nos quais já foram investidos mais de US$ 250 milhões. Outros U$ 130 milhões estão sendo aplicados em pesquisas em andamento na Austrália, Dinamarca, França, Alemanha, Finlândia, Coréia e Holanda, entre outros países. Até o momento, não há evidências de que a utilização do celular faz mal à saúde.
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