28.5.08

Cientistas afirmam que uso de celular na gravidez não deve ser considerado motivo de preocupação


ACEL

Na semana passada alguns veículos da mídia brasileira divulgaram dados preliminares de um estudo realizado por pesquisadores das universidades da Califórnia, nos Estados Unidos, e de Aarhus, na Dinamarca. A pesquisa, que só terá seus resultados publicados em julho deste ano, atribuiria à utilização de celulares no período de gravidez a ocorrência de transtornos de comportamento em crianças no início da idade escolar – por volta dos sete anos.

O trabalho tomou como base um questionário respondido por 13,1 mil mães de
crianças no começo da vida escolar. As mães foram perguntadas sobre a presença, em seus filhos, de distúrbios de comportamento, como hiperatividade, e emocionais, como dificuldades de relacionamento. Foi também perguntado se elas utilizaram telefones celulares pelo menos duas vezes ao dia durante a gravidez. As respostas indicariam, segundo as matérias sobre o estudo, a existência de relação entre as duas situações.

Nas matérias publicadas, não se esclarece se havia no questionário perguntas sobre outras variáveis que pudessem ser associadas a futuros problemas de saúde nas crianças – como uso de cigarros e álcool, por exemplo – ou sobre o
histórico médico e situação sócio-econômica familiar.

Os próprios coordenadores da pesquisa – Hozefa Divan, Leeka Kheifets, Carsten Obel e Jorn Olsen – ressalvaram que não é possível atribuir a eventual hiperatividade ou problemas de comportamento ao uso do celular. Distúrbios como esses no começo da vida escolar podem ter diversas origens e as relações observadas pelos pesquisadores não são, necessariamente, de causalidade.

Após a divulgação do estudo em jornais britânicos, os autores afirmaram também que a cobertura feita pela mídia estava fora de foco. O que foi publicado, “claramente não é aquilo que queríamos sugerir e pensamos que não há motivo para que as mulheres grávidas se alarmem” disse o Professor Jorn Olsen, porta-voz do grupo, para quem o trabalho nunca se propôs a sugerir um mecanismo biológico pelo qual a exposição a aparelhos celulares pudesse levar a problemas comportamentais nas crianças. De acordo com Jorn Olsen, muitas relações vistas em estudos desse tipo ocorrem de forma circunstancial. Os pais podem, portanto, ficar despreocupados, pois a grande maioria das crianças que foram expostas a celulares, dentro e fora do útero, não apresentou problemas comportamentais.

Também no Brasil, especialistas consideraram prematuras as ilações apresentadas em matérias sobre o trabalho. Em entrevista a um dos veículos brasileiros que abordaram a pesquisa, o professor chefe do Pré-Natal Personalizado da Escola Paulista de Medicina, Abner Lobão Neto, afirmou que os dados apresentados são inconclusivos. Michel Yacoub, professor-titular de telecomunicação da Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação da Unicamp (SP), afirmou ao mesmo veículo que a potência da radiação que o celular transmite é pequena. "Existe uma distância grande entre o ouvido da mulher e o útero. Não consigo ver uma
relação biológica".

A Organização Mundial da Saúde (OMS), que acompanha o tema no âmbito do Projeto Internacional sobre Campos Eletomagnéticos (EMF, na sigla em inglês) monitora, avalia e valida estudos científicos internacionais nos quais já foram investidos mais de US$ 250 milhões. Outros U$ 130 milhões estão sendo aplicados em pesquisas em andamento na Austrália, Dinamarca, França, Alemanha, Finlândia, Coréia e Holanda, entre outros países. Até o momento, não há evidências de que a utilização do celular faz mal à saúde.


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