8.6.07

VoIP no Brasil e o problema da interconexão

Convergência Digital | Ana Paula Lobo

Volto a falar da questão interconexão no mundo VoIP brasileiro. Até porque esse item é considerado dentro da Anatel, o mais crítico para a evolução do serviço no país. A Agência sabe que é preciso fazer mais, mas faltam recursos e mão-de-obra.

No setor, as grandes operadoras operam de forma "defensiva", ou seja, atuam no seu tempo de negócios, e não, no das novas provedoras. Não à toa, o lançamento de uma operação VoIP no país requer muita 'lábia' dos seus responsáveis.

Isso porque fechar acordos de interconexão nesse país nunca foi tarefa muito simples. As concessionárias de telefonia fixa, e até mesmo, as teles móveis, resistem a abrir suas redes. Elas afirmam que investiram muito pesado e, alegam, que a remuneração não é a ideal.

São argumentos concorrenciais, mas há uma determinação da Anatel para que as interconexões saiam do papel em tempo hábil, mas quem está no mercado sabe que esse 'tempo' é o do interesse de cada tele.

As operadoras VoIP preferem não falar sobre os problemas de interconexão. Elas sabem que eles existem, mas como precisam manter uma relação cordial com as concessionárias, preferem não revelar suas dificuldades. Afinal, é David brigando com Golias.

Na Anatel, como já coloquei na outra coluna, o conselheiro Pedro Ziller, um dos que mais conhece o universo VoIP no país, diz que as provedoras também têm sua parcela de responsabilidade nesse 'negócio' que não anda.

As escolhas no mundo VoIP ainda são por sistemas proprietários, que não se falam, alertou o conselheiro Ziller. Segundo ele, as operadoras VoIP precisam unir esforços e buscar uma plataforma padrão. Ter acesso a vários fornecedores como opção de escolha de qualidade técnica e preço, mas um padrão precisa ser estabelecido o quanto antes.

Estive no Telebrasil 2007, evento que reuniu os principais executivos do setor de telecomunicações, na Costa do Sauípe, em Salvador. O tema VoIP foi muito pouco tocado. Havia discussões mais 'relevantes', entre elas, o embate travado com a radiodifusão.

Só que um dos primeiros serviços ofertados pelas redes das operadoras de TV por Assinatura foi, exatamente, o de telefonia. Extra-oficialmente, as concessionárias admitem que VoIP já incomoda, pouquinho, mas incomoda, mas não há ainda necessidade de uma discussão mais acirrada sobre o tema no país. Está, aí, exatamente, a minha preocupação.

Sei que vivemos uma realidade muito diferente da dos Estados Unidos, onde há uma oferta de última milha muito maior do que aqui no Brasil. Os modelos de negócios são bastantes distintos, mas ainda assim é possível ver uma gigante como a Verizon brigando judicialmente contra a Vonage, sob a argumentação de uso indevido de patentes, mas também por uma fatia de mercado significativamente ocupado pela provedora VoIP, que em pouco tempo, arrebatou milhões de clientes.

Cabe a nós esperar por um conflito para tentar uma solução? Será que é assim que tudo se resolve no Brasil?

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