INFO EXAME
SÃO PAULO - No Brasil, como no resto do mundo, começam a desaparecer as diferenças entre os negócios de TV por assinatura, telefonia e internet.
Até o fim da década, 18 milhões de assinantes da operadora fixa americana Verizon receberão a visita de um técnico da empresa. Ele vai substituir os tradicionais fios de cobre trançados que entram na casa dos clientes por fibras ópticas. O custo do projeto, batizado de Fios, é estimado em 18 bilhões de dólares, embora muitos analistas acreditem que a conta vá ser muito mais alta. Mas a Verizon quer pagar para ver. Para o consumidor, uma fibra óptica significa telefonia fixa (com quantas linhas diferentes ele quiser), centenas de canais de TV paga e conexões de internet rápidas o suficiente para baixar um filme em alguns minutos. Para a operadora, essa avenida digital para milhões de residências significa uma única conta para os serviços de TV, acesso à rede e telefone -- com o logotipo da Verizon, é claro. Da mesma maneira, operadoras de TV paga de todo o mundo se mobilizam para oferecer serviços de telefonia e banda larga em suas redes. Depois da telefonia móvel e da internet, uma nova revolução se desenha no mundo das telecomunicações: a competição total.
Graças à tecnologia da internet, conteúdos e serviços que viajavam em redes separadas agora podem ser oferecidos em uma única infra-estrutura. Isso representa uma mudança profunda nos negócios das telefônicas, das operadoras de TV paga e das empresas de mídia. O movimento começou com força nos Estados Unidos, onde quase 60% das residências têm TV a cabo (ante aproximadamente 10% no Brasil). As operadoras de TV paga começaram a oferecer chamadas de voz e acesso em alta velocidade, em pacotes conhecidos como triple play. A resposta veio na forma dos investimentos como o da Verizon. Outras gigantes da telefonia tradicional, como a AT&T, também se preparam para vender essa trinca de serviços. O celular e serviços como o Skype, que permite ligar de graça pela rede, estão roubando espaço dos telefonemas convencionais, a principal receita das operadoras e um negócio de 600 bilhões de dólares em todo o mundo no ano passado. Estima-se que, em quatro anos, as chamadas tradicionais serão menos de metade das receitas das operadoras nos principais mercados do mundo. Oferecer o triple play, portanto, é uma questão de sobrevivência.
No final de outubro, a Telefônica, presidida no Brasil por Fernando Xavier Ferreira, anunciou a compra de parte da TVA, a operadora de TV paga do Grupo Abril (que edita EXAME). O grupo espanhol adquiriu a totalidade da operação de microondas, ou MMDS, que envia o sinal da TV por ondas de rádio, além de 49% da operação de cabo -- menos no estado de São Paulo, onde a transação envolveu 19,9% das ações por se tratar da área de operação da Telefônica. A negociação atribuiu à TVA um valor total de 1,1 bilhão de reais. "Tanto a TVA como a Telefônica saem reforçadas dessa associação, que acelera a chegada do pacote de serviços de TV por assinatura, acesso a banda larga e telefonia para os clientes de ambas as empresas. Ao mesmo tempo, injeta recursos na TVA para viabilizar seu crescimento acelerado", diz Roberto Civita, presidente do Grupo Abril. "A Abril deixará de ser um ´miniplayer´ no setor de telecomunicações, hoje dominado por verdadeiros gigantes no mundo inteiro. Sinto um grande alívio de não estarmos mais sozinhos nessa área." O acordo permitirá, por exemplo, que a Telefônica venda assinaturas da TVA. Com a compra do serviço MMDS, a empresa também adquiriu as licenças que permitem a criação de serviços com a tecnologia WiMax, de internet rápida sem fio, que vêm sendo desenvolvidos pela TVA desde o início deste ano.
A negociação ainda precisa passar pelos crivos da Anatel, agência que regulamenta as telecomunicações, e do Cade, órgão de defesa da concorrência. Mas já fica mais claro o novo panorama de competição: a disputa nos serviços convergentes será travada entre grandes conglomerados de comunicação. A Telemar, outra concessionária de telefonia fixa, comprou em julho a WayTV, operadora de TV paga de Minas Gerais. O grupo mexicano Telmex, dono da Embratel e da Claro, também detém participação significativa na Net Serviços, que domina 45% do mercado de TV paga no país depois da compra da concorrente Vivax. A Net, que lançou em meados do ano sua trinca de serviços integrados, já conta com 115 000 assinantes de seu serviço de voz. Embora seja um número pequeno diante dos 40 milhões de linhas fixas do país, é um claro sinal do interesse por parte dos consumidores pela novidade. As ligações pela internet custam menos e têm a mesma qualidade de um telefonema nas redes tradicionais.
A mudança tecnológica já é realidade, em maior ou menor grau, em todo o mundo. A France Telecom, por exemplo, perde 10% de sua receita ao ano graças à concorrência das ligações pela internet. Em Hong Kong, a telefônica PCCW detém mais de 40% do mercado de televisão por assinatura e deve tomar a liderança da empresa de cabo. Isso impõe um desafio fundamental para os órgãos reguladores, dizem os especialistas. Embora as redes das operadoras de telefonia e das empresas de TV paga sejam iguais do ponto de vista tecnológico, as leis ainda tratam os dois negócios de forma diferente. "O setor de telecomunicações tem de passar por uma revisão para que o Brasil não fique atrás", diz Fábio Kujawski, sócio do escritório de advocacia BKBG e ex-consultor externo da Anatel. "A União Européia já determinou que seus países-membros modernizem sua regulamentação interna." Alexandre Annenberg, presidente da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura, afirma que a legislação precisa ser atualizada. "Proponho que se rediscuta todo o marco regulatório."
Dois mercados desiguais | ||
Compare o negócio das concessionárias de telefonia fixa com o das TVs pagas no Brasil(1) | ||
Telefonia | TV Paga | |
Total de assinantes | 40 milhões | 4,2 milhões |
Clientes de banda larga | 3,6 milhões | 790000 |
Faturamento em reais(2) | 68,9 bilhões | 4,7 bilhões |
Empregos diretos | 26000(3) | 10000 |
(1) Dados do primeiro trimestre de 2006 (2) Dados do ano de 2005 (3) As concessionárias contratam outros 94 000 terceirizados |
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