24.7.07

Leilão da Telemig em sua reta final

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SÃO PAULO - A venda da Telemig, que já dura dois anos, pode mudar o mercado brasileiro de telefonia celular.

A história recente do mercado brasileiro de telecomunicações pode ser contada por meio de uma série de novelas que parecem intermináveis. As disputas societárias na Brasil Telecom, a indecisão sobre a possível saída de um dos acionistas da Vivo e as tentativas de reestruturação da Oi são algumas delas. Uma dessas histórias, porém, está próxima de seu capítulo final. Trata-se da venda da Telemig, quinta maior operadora de telefonia móvel do país. Colocada em leilão em 2005, a companhia foi procurada por nove interessados - entre operadoras e fundos de investimento. Em maio, as propostas foram filtradas, e sobraram na briga Claro, Vivo e Oi. No dia 16 de julho, encerra-se o prazo para que as ofertas finais sejam feitas. Após esse passo, a venda, coordenada pelo banco de investimentos americano Merrill Lynch e pelo escritório de advocacia Pinheiro Neto, pode ser concluída em semanas. Segundo estimativas de executivos envolvidos nas conversas, o negócio deve ser fechado por cerca de 3 bilhões de reais, no que seria a maior aquisição do setor desde 2003. "A Telemig é a última jóia da coroa", afirma Valder Nogueira, analista de telecomunicações do banco Santander. "Não restarão muitas opções para quem quiser crescer por aquisições no país." Quem levar a operadora mineira leva também a Amazônia Celular, líder na Região Norte do país.

O apetite das três operadoras pela compra da Telemig evidencia a importância estratégica que o negócio ganhou. O mercado mineiro de telefonia celular é o que mais cresce no Sudeste e um dos que mais se expandem no Brasil. Nos últimos 12 meses, esse crescimento chegou a 19%, um terço superior ao número registrado no estado de São Paulo, maior mercado do país. Das três, a Vivo é tida pelos especialistas como a operadora com maior interesse: Minas Gerais é o único estado do centro-sul em que a companhia não está presente. Esse buraco na cobertura tem custado à operadora aproximadamente 300 milhões de reais por ano, já que os clientes da Vivo que passam pelo estado precisam usar a infra-estrutura das concorrentes - e a companhia paga por isso. Comprar a Telemig seria a maneira mais rápida e barata de corrigir isso. Estima-se que, se fosse começar do zero, a operadora teria de desembolsar quase duas vezes mais para construir a rede e conquistar clientes à base de promoções. A Claro é vista como aquela com maior potencial para frustrar os planos da Vivo. A empresa, controlada pelo magnata mexicano Carlos Slim, já opera em Minas e ganharia a liderança do mercado nacional com a compra da Telemig. Ao mesmo tempo, a operadora impediria a entrada da maior rival em Minas Gerais - e aumentaria sua participação de mercado no estado, de 10% para algo próximo a 40%. No caso da Oi, os especialistas apontam duas razões principais para o interesse. A primeira delas é um salto na convergência de serviços e tecnologia. A empresa já atua em Minas Gerais em telefonia fixa. Em telefonia celular, a operadora conta com uma participação de mercado em torno de 25%. Além disso, a compra da Telemig acrescentaria ao portfólio da empresa outros 3,5 milhões de clientes.

A Telemig foi posta à venda há dois anos, em meio à feroz disputa societária entre seus donos - Daniel Dantas, dono do banco Opportunity, e os fundos de pensão. Na época, Dantas mandava na empresa e decidiu vendê-la. Um ano depois, porém, o banqueiro foi destituído do bloco de controle da Telemig. Os novos controladores, Citigroup e o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil (Previ), seguiram com o leilão. No início de maio, os interessados que fizeram as melhores propostas iniciais tiveram acesso aos principais dados da companhia, na chamada due dilligence. Cada um deles recebeu um CD com as principais informações da Telemig. Durante todo o mês, foram realizadas apresentações em dois hotéis na zona sul de São Paulo - o Hilton e o Hyatt. Nas negociações, as três operadoras interessadas foram batizadas com nomes diferentes. A Claro ficou marcada como time vermelho. A Vivo, como time azul. E a Oi, time verde. "A disputa entre as três está acirradíssima", diz um executivo próximo à Telemig. "O preço deve ser muito mais alto do que cogitávamos no início do processo, dois anos atrás."

A mudança no patamar de preço da Telemig deve-se, em boa medida, à evolução de seu desempenho nos últimos tempos. A empresa vinha perdendo 9% de participação de mercado a cada ano, e os lucros caíam em ritmo semelhante. "A Telemig estava abandonada", diz André Mastrobuono, presidente da empresa. "Na Amazônia Celular, não havia sequer papel higiênico." Desde outubro do ano passado, quando assumiu a companhia, Mastrobuono implementou um ousado plano de reestruturação. Promoveu ou deu aumento a cerca de 500 funcionários (dos 1 500 empregados da companhia), duplicou o bônus pago aos executivos e desenvolveu um plano de metas. No primeiro trimestre deste ano, a Telemig voltou a atingir uma rentabilidade de 40%, a maior do país em seu setor, e a queda na participação de mercado foi estancada. O objetivo dos acionistas, claro, era embelezar a noiva antes que o processo de venda chegasse ao final - e, assim, diminuir a lista de novelas do mercado brasileiro de telecomunicações.

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